Quando nossa Fundadora, Madre Maria Teresa Spinelli, recebeu de Deus a compreensão de que este instituto, fundado na Caridade, deveria ir adiante com o apostolado, a exemplo de Agostinho, e com a oração, tendo como guia a grande mestra espiritual Teresa d’Ávila, cuja doutrina “[...] dirige-se a todos os cristãos, ou melhor, a todas as almas interiores”[1], as bases do nosso carisma foram solidificadas.

            Santa Teresa de Jesus, fundadora e reformadora do Carmelo, foi uma grande mulher, mística e contemplativa, que compreendeu por experiência própria que a alma é como um grande globo de cristal “[...] todo resplandecente das claridades da fornalha divina que se encontra no seu centro”[2]. A Santa também notou que, à medida que se aproxima do centro da alma, isto é, da fornalha Divina que habita em cada um de nós, o globo se torna mais resplandecente, porque mais próximo de Deus. Sendo assim, existem diferentes intensidades de luz, que constituem as “moradas”.

              Dessa forma, toda a perfeição consiste na união perfeita com Deus: “[...] a alma parte da periferia para o centro de si mesma, a fim de se unir aí, de forma perfeita, a Deus e viver inteiramente em sua luz e sob sua moção[3]”. De que maneira a alma poderá percorrer esse caminho para entrar nas profundezas de si mesma e encontrar a Deus que aí habita? Santa Teresa indica: “[...] pelo que posso entender, a porta para entrar nesse Castelo é a oração[4].”

 
 
“Por isso é necessário que procuremos Deus reentrando continuamente em nós mesmas,
de modo que, rezando com um desejo ininterrupto, em um diálogo pessoal com o Deus-Trino, cheguemos à união com Ele”
Constituição nº 19
 

       A definição de oração de Santa Teresa de Jesus está intimamente ligada a muitas questões no caminho Agostiniano. De fato, a Igreja é um Corpo, e cada membro, na sua particularidade desempenhando o seu papel, se completa formando um só Corpo, do qual Cristo é a Cabeça. Vejamos algumas dessas semelhanças e elevemos a Deus um grande louvor pela sua Divina Providência, que uniu os carismas de Agostinho e Teresa D’Ávila para nos instruir nesse caminho interior até encontrarmos Aquele que habita dentro de nós.

           Oração, para Santa Teresa, nada mais é do que “tratar de amizade – estando muitas vezes tratando a sós – com quem sabemos que nos ama[5]”  e ainda “[...] uma troca entre dois amores: aquele que Deus tem por nós e aquele que nós temos por ele[6]”. Oração, portanto, é amar e dar prazer a Deus que quer estar na nossa companhia. Um trato carregado de intimidade de uma alma que ao menos deseja, ainda que não o possa plenamente, orientar todo o seu ser àquele que deseja amar. Essa procura amorosa de Deus por nós e nós por Deus, é oração: “[...] A oração Teresiana não conhece outra lei a não ser a livre expressão de dois amores que se encontram e se dão um ao outro[7]”.

          Da mesma forma, para Santo Agostinho, a oração recebe uma conotação de gratuidade. Para ele, oração é um acontecimento interior, um clamor do coração. Portanto, é preciso estar diante de Deus pelo que Ele é e não pelo que pode nos dar ou pelo que devemos pedir: “Quem pede a Deus outra recompensa fora dele e quer servi-lo tendo em vista essa recompensa, aprecia mais aquilo que quer receber do que aquele de quem espera o prêmio.[8]”  A oração deve, portanto, vir do coração, não uma repetição de palavras[9], mas “olhar Deus e olhar a si próprio[10]”.

 

 
“O amor tem necessidade de intimidade”[11]

 

 

           Sabemos que essa intimidade, esta troca de amor, não é algo que se conquista da noite para o dia. É preciso tempo, perseverança e “determinada determinação” como diz Santa Teresa! Não importa o que vier pelo caminho, a alma que começa a ter oração, não deve nunca parar, aconteça o que acontecer, venha o que vier, é preciso ter sempre um tempo na companhia do Senhor. Ainda que as limitações da nossa natureza humana não nos permitam rezar sempre, Santo Agostinho nos deixa uma dica: “Se não quiseres deixar de orar, não interrompas o desejo; teu desejo contínuo é tua voz, ou seja, tua oração contínua”[12].

             Peçamos a intercessão de Santa Teresa de Jesus, para que ela nos ajude a trilharmos este caminho da oração, para descobrirmos o Deus que habita em nós e para que não deixemos o Senhor nos esperando! E que Santo Agostinho nos ensine a interioridade para sairmos do que é externo, e sermos capazes de rezar e amar o Senhor em nós. Amém.

 

                                                                                                                                           

     

 

                                                                                                                                                             Irmã Nádia Katianne Rodrigues Silva, asjm

Referências

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[1] Frei Maria Eugênio - Quero ver a Deus p. 96.

[2] Id., p.46.

[3] Id., p. 191.

[4] Id., p. 93.

[5] Santa Teresa de Jesus - Livro da Vida 8,5.

[6] Frei Maria Eugênio, op. cit. p. 99.

[7] Frei Maria Eugênio, op. cit. p. 101.

[8] Santo Agostinho - Comentário aos Salmos 72, 32 p. 8.

[9] Santiato M. Insunza, OSA - Orar com o coração p.8.

[10] Id., P. 2.

[11] Frei Maria Eugênio, op. cit. p. 103.

[12] Santo Agostinho - Tratado sobre a Primeira Carta de São João 4,6.

 

 

 

 

Oração a Santa Teresa d'Ávila

Ó seráfica Virgem, Santa Teresa, esposa escolhida de Cristo Crucificado, tu que amaste com um amor total ao Senhor aqui na terra, e agora consumas com uma chama maior e mais pura nos céus, tu que tanto desejaste vê-lo amado por todos os homens, alcança também a mim essa chama de amor a fim de que, liberta das trevas do mal, ofereça a Deus meus pensamentos, meus desejos, minhas aspirações, todo meu ser, para que a Sua vontade se realize em mim e na Igreja para a salvação da huminade. Obtende-me esta graça, tu que tanto podes junto a Deus: faze-me consumar pelo amor Divino. Amém

Santa Teresa de Jesus,
Rogai por nós!