A família Agostiniana celebra, nesse mês de agosto, a solenidade de Nosso Pai Santo Agostinho, um grande homem que, ao longo da sua história, descobriu a vontade de Deus em cada acontecimento e, deixando-se conduzir por esta Verdade que é Deus, soube desprender-se das coisas externas, das coisas que passam, para encontrar Deus dentro de si mesmo. Assim, já é possível perceber a grande liberdade de Agostinho, uma vez que não dependia do que estava fora de si para amar, buscar e sobretudo, encontrar a Deus.
Quem de nós nunca desejou compreender o caminho que nos levará ao Céu? Quantas vezes não perguntamos ao Senhor: “Bom Mestre, o que farei para alcançar a vida eterna?”. A verdade é que nosso coração é inquieto, e assim há de permanecer enquanto não repousar no Senhor. Estará inquieto enquanto não compreender que a vida eterna começa quando vivemos os mandamentos do Senhor. Quais mandamentos? É o que vamos aprender com Santo Agostinho. Peçamos juntos:
Em seu comentário à Primeira Epístola de São João, Santo Agostinho expõe ser estritamente necessária a observância dos mandamentos do Senhor para estar em comunhão com Deus, pois, “sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos”[1]. No entanto, voltemo-nos para o Evangelho e vejamos o que o Senhor diz acerca deste mandamento. Jesus, ao ser interrogado sobre qual é o maior mandamento da Lei, responde: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Esse é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas”.[2]
Portanto, “podes ter feito tudo o que quiseres – diz Santo Agostinho –, se somente a Caridade te faltar, o resto de nada te servirá. Se a possuís, cumpris toda a Lei”[3]. Eis o caminho para o Céu: preocupemo-nos somente com uma coisa: AMAR, pois, “a prática da Caridade, derramada em nossos corações, por obra do Espírito Santo, nos conduz à visão de Deus que é Amor"”[4], isto é, amando cresceremos, amando ouviremos o Senhor, amando seremos semelhantes a Ele, pois Deus... é Amor!
Se ainda não nos convencemos do sublime papel da Caridade em nosso caminho espiritual, Santo Agostinho afirma: “Se quiseres professar a fé, mas sem acrescentar o amor, começas a parecer-te com os demônios”[5], pois, “a Caridade é o único sinal que distingue os filhos de Deus dos filhos do demônio. Todos podem fazer sinal da Cruz de Cristo. Todos podem responder: Amém. Todos cantarem Aleluia. Todos serem batizados. Todos frequentarem igrejas. Todos construírem os muros das basílicas. Mas os filhos de Deus não se distinguirão dos filhos do demônio a não ser pela caridade. Os que possuem a caridade nasceram de Deus. Os que não a possuem não nasceram de Deus. Grande sinal distintivo! Grande discernimento!”[6]
Olhemos para dentro do nosso coração e examinemos se nele existe a Caridade! Se ela não existir em nós, o Senhor não resiste a um coração humilde que lhe suplica a sua graça. Portanto, “[...] dize a Deus o que és. Pois, se não disseres a Deus o que és, Deus te condenará pelo que encontrar em ti”[7]. O Senhor nos purifica, se na humildade, nos abrimos à Caridade, se lhe pedimos a graça de amar, se lhe pedimos para d’Ele nascer e sermos, de fato, seus filhos. E, onde está a humildade, há a paz, e onde há a paz, ali manifesta-se a Caridade: eis que começaremos a Amar com o Amor que vem de Deus.
Queres ser perfeito? Começas por amar. “Começaste a amar? Deus começou a habitar em ti. Dá amor àquele que começou a habitar em ti, a fim de que ele te torne mais perfeito, habitando cada vez mais perfeitamente em ti.” [8]
Questionemo-nos agora: qual é a perfeição da Caridade? Como devemos colocar em prática o mandamento do Amor? Para Agostinho, a perfeição da Caridade está em ter tanto amor a ponto de morrer pelo irmão. Amar até mesmo os nossos inimigos, aqueles que mais nos custam, e amá-los com um profundo desejo de que se tornem nossos irmãos, o que nos leva a entender que “nosso amor, pois, não deve ter nada de carnal”[9], mas deve sim ser espiritual e gratuito, de modo que, sejamos neste mundo tal como Deus é, e nos tornemos de fato seus filhos, “pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.”[10]
Nenhuma perfeição, porém, é alcançada sem esforço. Da mesma forma, tendo a caridade começado a brotar em nosso coração, ainda há muito trabalho para que amemos de modo perfeito: a nossa caridade precisa ser aperfeiçoada. Portanto, para começarmos a amar de modo perfeito, precisamos de pequenas iniciativas.
Para Santo Agostinho, “[...] o começo da caridade é dar do supérfluo ao necessitado, ao que está colocado em necessidade”.[11] Vejamos quantas necessidades os que estão ao nosso redor carregam dentro de si. E não pensemos somente em coisas materiais, pois são muitos que necessitam da nossa atenção, dos nossos cuidados, das nossas advertências, dos nossos favores, das nossas orações! Poderíamos citar uma lista de pequenas obras de Caridade, mas deixemos o apóstolo Paulo falar por nós, vejamos o que ela é, e aprendamos a exercê-la em nossa vida:
Quantos pecados nós cometemos contra a Caridade! Mas temos uma esperança: “[...] a caridade apaga os pecados”[13]. Se muito pecamos, temos a segurança de ser perdoados pelo muito amar. Amemos, portanto, na medida em que devemos ser perdoados, e o fogo do Amor será aceso no mundo, e viveremos nessa Terra uma antecipação do Céu, onde todos serão Filhos de Deus, e onde todos saberão uma só coisa: amar.
Se a Caridade é a raiz de todas as nossas ações, alcançamos a grande liberdade: “Ama e faze o que quiseres. Se te calas, cala-te movido pelo amor; se falas em tom alto, fala por amor; se corriges, corriges com amor; se perdoas, perdoa por amor. Tem no fundo do coração a raiz do amor: dessa raiz não pode sair se não o bem[14]”.
Santo Agostinho, rogai por nós!
Irmã Nádia Katianne Rodrigues Silva, asjm
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[1] 1Jo 2,3.
[2] Mateus 22, 36-40.
[3] Santo Agostinho - Comentário à Primeira Epístola de São João p. 113.
[4] Constituições nº 31;
[5] Santo Agostinho, op. cit. p.62.
[6] Id., p. 113.
[7] Id., p. 37.
[8] Id., p. 174.
[9] Id., p. 41.
[10] Mateus 5, 45.
[11] Santo Agostinho, op. cit. p.122.
[12] I Cor 13, 4-7.
[13] Santo Agostinho, op. cit. p.37.
[14] Id., p. 151.